A Pandemia e a Tríade Casa, Aluno, Escola.

 

    Quantas vezes você precisou notificar um pai ou responsável sobre a não realização das tarefas de casa? Quantas vezes você se deparou com problemas disciplinares, teve que solicitar uma reunião pedagógica e por vezes os números de telefones estavam desatualizados? Quantas vezes você foi questionado pelos pais ou responsáveis sobre o rendimento escolar dos filhos sem ser no final do ano? Quantas vezes você enviou feedback para todos os pais sobre o desenvolvimento dos alunos no período letivo? Quantos pais você conhece? Em que outros momentos você esteve em contato com os pais e ou responsáveis pelos alunos sem ser para tratar de problemas disciplinares ou notas? E quando conseguiu falar com os pais e eles disseram que não sabiam o que fazer? Eu sei. São muitas perguntas, mas eu acredito que todas são válidas para o momento em que estamos vivendo.

    A escola tem um papel excludente em tudo isso. Não briguem comigo, apenas estou compartilhando algo que você também irá perceber logo, logo. O contato da maioria dos pais com ela se dá somente no período de matrícula e rematrícula. Depois eles apenas deixam as crianças no portão da escola que é vigiada por um inspetor que impede a livre passagem. Não estou falando em questão de segurança, aqui. Tudo bem saber quem entra na escola, tudo bem zelar pela integridade dos alunos, professores, agentes educacionais. Mas que tal um pouquinho mais de chamariz para ações conjuntas? Que tal se os momentos se estendessem?

Durante a pandemia eu pude ler sobre essa relação tão banalizada por muitos e até por mim mesma apenas pelo desconhecimento de como fazer com que os laços se estreitem e que os pais não se sintam a margem do processo educativo. “É, mas eu mando tarefa de casa, mas não fazem.” O que você fez antes de pedir colaboração? Eles nem te conhecem.

Estudos mostram (e logo abaixo eu deixarei alguns links caso queiram expandir seus conhecimentos), que é necessário o resgate da confiança dos pais na escola. Para que serve a escola? O que o meu filho vai fazer lá? O que a escola pode fazer pela nossa comunidade? O que eu espero dos professores? “Nossa, mas eu devo saber o que eles esperam de mim? Sou professora de Língua Portuguesa não é óbvio?” Não. Não é.  Se especializou em que? Qual foi seu último curso? O que tem feito para se atualizar e manter sua qualidade de ensino? É efetivo, vai acompanhar o desenvolvimento do meu filho por quanto tempo? Como atua? Ele terá tarefas quantas vezes por semana? Como fará a entrega dos trabalhos? As avaliações serão contínuas, orais, descritivas objetivas?

    Eu percebi nesta pandemia que muitos professores e diretores fizeram uso de uma ação eficaz no restabelecimento da confiança entre pais e escola de maneira emergencial, mas que se já fossem hábito, traria mais resultado. Trata-se das visitas às casas dos alunos.

Pensem na reação dos estudantes ao receberem a visita do diretor ou professor trazendo atividades na casa dele. “Do nada ele me encontrou.”

    É aconselhável que se façam visitas à casa dos pais e/ou responsáveis para conhecer a comunidade a que se atende, suas necessidades, identificar seus pontos fortes, perguntar claramente e abertamente sobre seus filhos e suas expectativas para seus filhos e o que esperam dos professores e da escola. O que poderia estar sendo feito que a escola ainda não pensou? Tais informações são valiosíssimas. Muito mais do que apenas entregar atividades as quais fogem as habilidades dos pais ou por vezes a dos próprios alunos. Estamos colocando nas mãos deles mais problema. Poderíamos pensar em workshops, oficinas gratuitas, celebrações de datas comemorativas, reuniões entre pais para compartilhamento e reflexão. As vezes o problema de um é o mesmo que o do outro e um terceiro consegue articular uma solução. Com todas essas medidas eu estou dizendo à comunidade que a escola pertence a ela e quer ela inserida no processo educacional.

    Vocês não imaginam o poder de uma comunidade forte e atuante. Que sabe usar a sua voz e buscar seus direitos. Com isso eu ganho liberdade para falar o que a escola quer para o filho deles.  É hora de construir o verdadeiro projeto político pedagógico.  Mostrar o planejamento trimestral, semestral, anual com os objetivos, avalições e resultados. Essa confiança se manterá por meio dos feedbacks que enviamos aos alunos, os quais devem ser claros e não só para informar o sucesso ou insucesso do aluno, mas mostrando como e onde encontrar ajuda. Indique vídeos, leituras adicionais, proponha atividades extras. Porque quando os pais dizem que não sabem o que fazer... É a mais pura verdade.

    Nossa, mas dá muito trabalho tudo isso! Eu acredito que a opção de ser professor, diretor de escola não é nem de longe a mais fácil, e é isso que as torna tão importante para a sociedade.

Referências

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